Por onde começar?

Padrão

 

O mestre de obra passa a impressão de que você já devia comprar tudo logo de uma vez, menos o cimento, que estraga em 30 dias. Você tem a sensação de que já deve definir, antes mesmo de sair do chão, o material que vai usar nas janelas. Em que hora você deve se preocupar em comprar as portas? E que diabo de peça é essa que o pedreiro pediu pra poder montar o vaso?

Na construção da minha casa, eu tive que terminar uma parte dela primeiro, e isso me serviu de orientação básica para a construção do resto da casa. Em linhas gerais, tanto faz o tamanho da casa e o número de andares — os princípios são os mesmos, apenas as quantidades são diferentes. A organização da obra vai da necessidade de cada um. Uma pessoa, por exemplo, pode querer terminar todo o piso térreo, para já morar nele enquanto constrói os outros andares. Ou se pode também querer erguer a casa inteira até o telhado só na alvenaria, para depois passar à etapa de reboco e instalações, por exemplo.

Mas, posso dizer com a minha atual e ainda pequena experiência, o importante é começar. Entre tudo que é necessário para isso, estão a paciência, uma boa cautela financeira, muita organização, e uma boa preparação psicológica.

 

Antes de começar

Você certamente já tem uma idéia de como é a casa que você quer, não é? Se você é nerd como eu, certamente já tentou até mesmo esboçar algumas plantas baixas e maquetes em 3D com softwares de arquitetura como Floorplan, 3D Home, Chief Architect e outros. Ou talvez tenha apenas feito alguns desenhos em papel mesmo. Mas, se você não é tão sonhador assim, talvez você tenha simplesmente adorado uma casa que viu numa revista de arquitetura, e resolveu copiar o projeto dela igualzinho.

Pois bem: ótimo que você já saiba o que quer, mas contrate um arquiteto. É caro? É sim. Muitos se acham os próximos Niemeyers e você poderá ter a sensação de que o arquiteto quer te cobrar preço de um projeto de shopping center pela sua casa. Mas pesquise, encontre um arquiteto experiente e sem frescuras, e isso vai valer MUITO a pena. Se você já tiver os tais esboços que mencionei, ótimo, não se envergonhe e mostre a ele as suas idéias — você pode pensar que elas parecerão ridículas para um arquiteto de verdade, mas elas darão a ele uma boa noção de o que é que você está imaginando. Deixe que ele faça propostas, discuta com ele o que você aceita ou não aceita, o tipo de acabamento que você imagina, até mesmo um pouco dos seus planos futuros, como ter um atelier, um laboratório de fotografia ou um barco. No fim das contas, você vai ter em mãos um projeto já bastante definido, corretamente dimensionado, e que vai poder ser executado praticamente sem grandes mudanças durante a obra — ou seja, só isso já vai economizar tudo que você pagou ao arquiteto. Mais ainda, um projeto completo já vai vir com as plantas das instalações de água, elétrica, telefone, etc., e talvez até mesmo algum detalhamento sobre o acabamento, as escadas da casa, as bancadas de pias, etc. Definitivamente, não se faz uma obra só a partir de uma planta baixa.

Existem em alguns sites e nos classificados dos jornais alguns arquitetos que vendem, a preços bem mais em conta, projetos completos já prontos. É como se fossem “projetos de casas pré-moldadas”, e, mesmo sendo algo bastante improvável, vamos supor que você encontre um que considere perfeito. Ainda assim, você vai precisar do cálculo estrutural, que é tão ou até mais importante que o projeto em si. Parece compensador, fácil e barato fazer uma fundação comum, subir colunas de ferro e concreto acompanhando a espessura dos tijolos, mas se você fizer isso você rapidamente vai se arrepender. Normalmente o projeto de fundações e cálculo estrutural é feito por um engenheiro especializado, que possivelmente deverá ser pago à parte do projeto arquitetônico. Vale a pena: não tente economizar aqui.

 

Dinheiro

Falando em economizar, dinheiro é sem dúvida o grande problema de qualquer obra. Na verdade, obra só é mais barata do que comprar uma casa pronta (e, mesmo assim, nem sempre). Parece algo impossível de se realizar no começo, mas as seguintes dicas podem ajudar:

  • Antes de começar, junte o máximo de dinheiro que puder, pelo máximo de tempo que for possível. Faça a maior economia da sua vida e, com isso, evite ao máximo, e enquanto puder, cair na tentação de pegar um empréstimo bancário, ou pagar as contas da obra com cartão de crédito em prestações a perder de vista. Você sabe tanto quanto eu que banco nenhum é bonzinho e os juros não são brincadeira. O que acontece se você cair na tentação de pegar um empréstimo já no começo da obra? Tudo fica parecendo maravilhoso no começo: você tem bastante dinheiro para a fundação, a mão de obra, etc. Só que aquele montão de dinheiro vai embora rapidinho, e então você vai se ver devendo as calças a um banco, e sem dinheiro para comprar mais material e pagar a mão de obra. É praticamente a falência, e eu já cansei de ver gente vendendo casa pela metade porque não deu conta de pagar. Por isso, deixe para pegar um empréstimo, se for realmente necessário, só no fim da obra, na fase de acabamento, que é realmente a mais salgada mas pode esperar caso o dinheiro acabe antes da hora. E, se possível, antes de ir a um banco procure um amigo ou parente que tenha dinheiro e que confie em você. Qualquer coisa é melhor do que cair na ciranda do mercado financeiro!
  • Divida a obra por etapas e já planeje de antemão algumas paradas estratégicas para “respirar” financeiramente. Não tente tocar a obra sem ter uma confortável reserva de dinheiro que lhe permita comprar material “de emergência” — coisas como 20 sacos de cimento ou duas latas de verniz para ontem, coisa que acontece o TEMPO TODO numa obra, e que NUNCA vai te custar só dez reais. Algumas fases da construção são extremamente sugadoras de capital — o telhado, por exemplo — e depois delas é altamente recomendável você parar a obra, dispensar o pessoal por pelo menos uns 3 ou 4 meses, tentar economizar o máximo que puder do seu suado salário, e só então retomar a construção. Se você não fizer isso, tenderá a cair na tentação de pegar um empréstimo, e aí a bola de neve começa a rolar.
  • Onde que dá para economizar? Nos próximos artigos, tentarei indicar, sempre que possível, o que pode ou não sair mais barato. Entenda que uma casa é um tremendo patrimônio, que poderá ser seu pelo resto da vida, e por isso muitas vezes vale a pena gastar um pouco a mais e ter algo de qualidade que não vai lhe causar problemas tão cedo — e muitas vezes esse “um pouco a mais” é realmente pouco. Por outro lado, algo mais caro não é necessariamente de melhor qualidade, e muitas vezes a gente não percebe que, além do gasto inicial com a compra do material, também é preciso pensar no custo da mão-de-obra para trabalhar com esse material e, principalmente, na manutenção futura que poderá ser necessária. Você vai ver que atualmente tem muita coisa em construção que é pura esbanjação.

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