No futebol há várias histórias desse tipo (a Copa de 78 talvez seja o exemplo mais escandaloso). Joguinho chato, travado no 0 a 0, em que o time A, jogando na casa do adversário, não emplaca um gol mas conta com a vantagem do empate. Aí, em dado momento, o zagueiro marca um inacreditável golaço… contra. Alguns instantes depois, o goleiro nem se mexe para pegar o chute do time B. O árbitro, ou “juiz”, não apenas finge que não vê o que está acontecendo, como também começa a distribuir cartões apenas para os jogadores do time A. Que, obviamente, sai do jogo derrotado, humilhado e desfalcado.
O locutor do estádio e a imprensa local acham lindas as jogadas, comemoram o replay, enaltecem a “virada” vitória do time B após um campeonato bem medíocre. A torcida do time B dá risadas. Adora o que está acontecendo, comemora dando gargalhadas, zombando dos adversários. A imprensa de fora escancara a armação, os torcedores do time A se indignam, os torcedores de outros times estranham, mas o pessoal do time B argumenta que nada foi ilegal: afinal, gol contra está previsto nas regras, se o goleiro frangou o azar foi dele, o árbitro validou os gols e só o que importa é o que se viu dentro das quatro linhas.
É claro: isso é #golpe.
E é claro que é isso que está acontecendo na política brasileira. Se você não entende o exemplo futebolizado, amig@, é porque você está em pelo menos uma das três situações:
- Você é torcedor do time B;
- Você torce contra o time A mesmo que seja num jogo contra a Seleção da Argentina;
- Você simplesmente é ingênuo demais.
Se você se enquadra na última (e só na última) categoria, segue a explicação.
O time A no caso é o governo do PT, patinando, errando muito, mal posicionado, até arriscando um chutinho de vez em quando, sem sucesso. Mas que, mesmo assim, jogou razoavelmente e foi subindo no campeonato (isto é, as eleições diretas) pelas próprias pernas.
A casa do adversário é a própria política brasileira, patriarcal, colonial, monetarista, feudal. O time A nunca foi bem vindo nesse estádio.
O zagueiro e o goleiro claramente vendidos chamam-se, é claro, Dudu e Michel. Os novos heróis do time B, com contrato já assinado para a próxima temporada, apesar de terem chegado até a final do campeonato sempre juntos ao resto do time A.
O árbitro nem precisa de muita explicação, né? Dos mais altos quadros da FIFA, mas também corruptível e claramente corrompido, intimidado, acovardado por ser completamente e historicamente envolvido com os cartolões do time B. Tal como nosso Judiciário, que faz cara de paisagem diante das acusações contra Aécio, da desfaçatez de Eduardo Cunha, dos atropelos insanos que o interino Michel fez em apenas sete dias de governo. Esse juiz só “vê” as faltas do time A e se limita, também, a dizer que as regras do jogo (a Constituição) foram cumpridas, fingindo não perceber toda a escancarada mutreta feita fora do campo.
O locutor e a imprensa local também dispensam grandes explicações. Controlados pela mesma elite quatrocentona da cidade do time B e desalinhada com o óbvio ululante que a imprensa do resto do mundo está começando a ver e denunciar. Para ela, só interessam as opiniões externas favoráveis. Porrr phavour!
O time B, evidentemente, é a velha quadrilha bandoleira, neoliberal, privatista, financeira, que foi incapaz de vencer o campeonato (isto é, as eleições) pelos últimos 13 anos e, diante do joguinho amarrado do time A (isto é, a situação econômica do país), cooptou com uma promessa de contrato (isto é, poder) os já citados jogadores para dar um jeitinho de pôr a mão no caneco.
Caneco, meu amigo, é o dinheiro, os direitos e a democracia de nós todos, torcedores. Inclusive de você, torcedor do time B ou que só quer ver o time A se ferrando. Você ainda vai se lamentar de que o futebol nunca mais será o mesmo.