É proibido viver

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A memória sempre falha, ainda mais com a ajuda do tempo, não me permitiu fazer grandes comparações entre a Guarapari que vi em setembro de 2009 e aquela que eu conheci há quase vinte anos, ainda fedelho. Não me lembrava se já havia tantos prédios modernos à beira-mar, por exemplo, entre tantas outras coisas que parecem diferentes. Mas uma coisa realmente não havia naquela época, e foi uma decepcionante surpresa descobri-la.

Dez e meia da noite, e a badalada Praia do Morro, com seus ares de zona sul carioca, tinha duas simplórias vans de cachorro-quente e churrasquinho, alguns gatos pingados vagando pelo calçadão, e nenhum de seus, sei lá, trinta quiosques aberto. Nenhum. Tudo bem que a visita ocorreu em período de baixa temporada, longe da famosa confusão em que se torna a cidade em épocas de férias, mas ainda assim tal abandono à maresia me pareceu inesperado e surpreendente. Como que tão bela cidade do litoral capixaba, considerada a praia dos mineiros, tão voltada para o turismo, não teria absolutamente nada a oferecer à noite?

A resposta veio de um retardatário dono de quiosque a menos de cem metros de hotel, que evidentemente já havia encerrado suas atividades comerciais, mas ainda conversava com um amigo bebericando cerveja. Perguntei se era comum que todos fechassem as portas tão cedo, que não houvesse nada para um visitante fazer à noite num dia de semana qualquer. E ele disse que é coisa dos últimos tempos. Desde quando foi implantada uma lei do silêncio, imposta pela associação de moradores (não sei se da Praia do Morro especificamente ou de toda a cidade). A partir das dez da noite, música ao vivo é proibida. Som mecânico, só se for muito, mas muito baixinho, porque a toda hora passa algum carro da fiscalização (possivelmente com mais frequência do que as viaturas policiais, que simplesmente parecem não existir).

Tal proibição me foi explicada em seguida pelo recepcionista do hotel, com uma frase simples: “É que 90% dos moradores daqui são aposentados, aí já viu, né?”. É, já vi…

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