Eu juro que vou mandar esse artigo ou uma versão dele para o Téo José, para a direção da Bandeirantes, para os sites nacionais de automobilismo, e ainda vou traduzir para o inglês e publicar em tudo que é fórum e site que possa de alguma forma chegar às vistas dos responsáveis pelo marketing internacional da Fórmula Indy. O que a Rede Bandeirantes de Televisão faz com a Fórmula Indy e com todos seus espectadores no Brasil é um acinte, uma palhaçada, um desrespeito, uma esculhambação. TODO ANO. Dessa vez, resolvi aproveitar a fúria dos minutos seguintes às 500 Milhas de Indianápolis para escrever.
A Band, muito preocupada com o fã do automobilismo, interrompeu a metade decisiva das 500 Milhas de Indianápolis para transmitir trechos do jogo de Fluminense X Atlético-MG pelo Brasileirão. Eu SOU torcedor do Fluminense, mas, francamente, eu estava na Bandeirantes para ver as 500 Milhas, e se quisesse ver o jogo estaria na Globo e me lixando com o que a Band estivesse transmitindo.
É muito difícil entender o que é que faz uma emissora abrir mão de um conteúdo exclusivo para transmitir algo que outra emissora já está transmitindo — e, pior, sabendo que a outra emissora é a líder inconteste de audiência. Entre várias interrupções, cortaram várias das 50 últimas e sempre decisivas voltas da mais tradicional prova do automobilismo mundial. Ainda bem que voltaram a tempo para transmitir as últimas 15 voltas ou algo assim — inclusive as decepcionantes paradas para reabastecimento de Hélio Castro Neves e de Tony Kanaan, que largara em último e estava em segundo lugar. Mas na última volta houve um acidente espetacular, com três carros envolvidos, um deles virado de cabeça pra baixo na reta principal. Você ficou sabendo quem eram?? Eu não, porque a porcaria da Band cortou para o jogo, imediatamente após a bandeirada. Só depois pude ler que o tal capotado foi o inglês Mike Conway, que teve que ir para o hospital de helicóptero.
É por essas e outras que foi com certa tristeza, e não com a alegria que seria esperada, que ouvi o anúncio, durante a corrida, que o Grupo Bandeirantes acertou com a organização da Fórmula Indy mais realizações da corrida em São Paulo até 2019. Tristeza porque a Bandeirantes não tem o menor talento, nem vocação, e muito menos competência para transmitir a Indy no Brasil, e ainda assim engabela os americanos fazendo-os acreditar que são grandes promotores da categoria por aqui. Aproveitam-se, decerto, do fato de que televisão nos EUA é algo completamente diferente do que existe por aqui. Lá todo mundo tem TV a cabo, a TV aberta não é líder nem tem lá a melhor qualidade, e o americano sempre gostou mais de Nascar do que de corrida de monoposto. Para os americanos, a transmissão chinfrim que a Band faz da Indy, complementada pelo canal pago BandSports, é algo normal, bem do jeito que eles costuma ver por lá. Eles deveriam ver como é que a Globo transmite a Fórmula 1 há 29 anos. E não é só por puro mérito global, não: é também porque a federação dos construtores da F-1, a FOCA, faz uma série de exigências para as emissoras que compram direitos de transmissão das corridas.
A Band já foi boa nisso, sim. Lembro que me apaixonei pela F-Indy durante as temporadas de 1988 e principalmente 1989, quando Emerson Fittipaldi — sempre ele como pioneiro — começou a dar show por lá. A Band, com as vozes e caras de Luciano do Valle, Willy Hermann, Jota Júnior e Sílvia Vinhas, transmitia as corridas na íntegra, ao vivo e pontualmente, e de quebra fazia algumas reportagens especiais que mostravam um pouco da tradição da categoria e de cada circuito do calendário. Alguém se lembra de Meadowlands? Pocono? Elkhart Lake e Laguna Seca? Minneapolis? Também se podia conhecer um pouco de cada piloto: Rick Mears (o “Rei da Ultrapassagem Por Fora”), Danny Sullivan (o motorista de táxi de Nova York), Bobby Rahal (o professor de Geografia), Mario e Michael Andretti chefiados pelo Paul Newman, Scott Goodyear, Al Unser Jr. correndo com o chassi americano Galles, o inenarrável Roberto Guerrero e outros tantos figuras. Foi a época em que o brasileiro realmente levo a Indy a sério, quase que Ayrton Senna foi correr por lá. Depois veio a cisão da categoria, a transmissão foi para a Manchete e para o SBT, ficou meio lá e meio cá até voltar para a Band de novo.
Mas aí o caldo já estava desandado. Tenho passado ódio a cada último domingo de maio, em que, talvez até meio iludido pelas lembranças daquela época de ouro da Bandeirantes na Indy, acho que finalmente haverá uma transmissão honrosa. Puro engodo. Em 2008, por exemplo, corrida interrompida por chuva e muita confusão, fiquei sabendo do fim só pela Internet, porque a porcaria da Band deixou de transmitir a última parte da corrida para por no ar um programa gravado do Raul Gil com uma dupla sertaneja. Em 2009 apelei para a TV a cabo alheia no dia da corrida — eu definitivamente não tenho tempo para TV a cabo própria. Mas o tal do BandSports é um canal tão porqueira que só era disponível como canal avulso: R$ 10,00 para um mês. Paguei até feliz por não ter que passar pela raiva dos anos anteriores. Então, em 2010, a emissora outra vez anunciando com galhardia a transmissão da corrida… o trouxa aqui acreditou de novo.
O departamento de esportes da Band deveria se envergonhar. A emissora que já se intitulou como “o canal do esporte” dá uma tremenda lição de amadorismo e incompetência. Eu adoraria acompanhar todas as corridas da temporada da F-Indy, mas a emissora não tem o menor compromisso e/ou respeito com quem poderia vir a ser espectador. Uma corrida é transmitida ao vivo. A etapa seguinte passa só no BandSports e é reprisada no canal aberto às 2h da manhã de domingo para segunda. A outra corrida é gravada e transmitida logo após o jogão da segunda divisão do Campeonato Paulista. Vêm as 500 Milhas, e são transmitidas ao vivo — mas a Band não anuncia que vai cortar o final para replicar o que está passando na Globo ou para transmitir o Programa Raul Gil. Ou seja: desse jeito, é impossível acompanhar a Indy, tomar gosto pela categoria, torná-la interessante e popular como é a F-1, mesmo tendo ela muito mais brasileiros com muito mais chances de vitórias.
Esse descaso — talvez intencional, para forçar as vendas do BandSports — é ainda uma burrice escabrosa em termos de marketing e de atratividade para patrocinadores. Talvez os funcionários mais antigos da Band se lembrem dos anúncios da DPaschoal, com os personagens Nestor e Alemão, que passavam nas transmissões da Indy nessa época do Emerson que mencionei. Porque eu lembro — e olha que até hoje não existe DPaschoal na minha cidade! Se uma emissora não mostra realmente ter respeito e fidelidade ao espectador de um esporte sobre o qual ela detém exclusividade de transmissão, será que eu vou mesmo assinar uma tevê a cabo E comprar o BandSports como canal avulso só para me sentir respeitado nesse aspecto? Ou que seja só para assistir à F-Indy? Se a vitrine é ruim, será que o produto secreto de luxo vai mesmo prestar? Olha, em tempos de YouTube e convergência digital, sai muito mais barato instalar no computador um desses programinhas que permitem ver tudo que é canal via satélite pela Internet. Que respeito eu posso ter e esperar de um canal de tevê, e de todo um grupo de comunicação, se esse canal abre mão do seu próprio conteúdo exclusivo para transmitir o mesmo jogo que uma outra emissora maior está transmitindo — e que é sempre necessariamente o mesmo jogo, segundo o povão, porque a tal emissora líder impõe isso em seu contrato com a CBF? Ora, francamente. Por essas e outras que uma é líder e outra não.