Pequena, barata e resistente — a Variant foi um dos mais bem sucedidos modelos nacionais do começo dos anos 70
Corria o ano de 1967 quando a Volkswagen do Brasil, seguindo os passos da matriz alemã, comprou a fábrica que produzia os modelos DKW, da Auto Union — no Brasil, a Vemag, fabricante do sedã Belcar e da perua Vemaguet. Há quem diga que a medida foi tomada para impedir o avanço dos dois concorrentes, de excelência mecânica até hoje lembrada. E a Volkswagen do Brasil, até então, só fabricava o Fusca, a Kombi e algumas unidades do esportivo Karmann Ghia — carros que, tecnicamente, não eram concorrentes dos modelos da DKW. Era preciso ocupar o espaço deixado pelos carros extintos.
Em 1968, com os engenheiros da Vemag que foram absorvidos, a VW brasileira produziu o seu primeiro carro diferente dos modelos da VW alemã: o VW 1600. o “Zé do Caixão”, que seria o sucessor natural do DKW Belcar. O carro foi um fiasco, apesar do sucesso entre os taxistas. Mas deu origem à série “que trouxe a substituta — essa sim, com êxito — da Vemaguet.
A Variant brasileira surgiu em 1969, com um famoso comercial de televisão em que Rogério Cardoso (o “seu” Floriano, de A Grande Família) tentava descobrir onde estava o motor do novo carro, que “só tinha” porta-malas. Além do dianteiro, com 139 litros de capacidade, havia o espaço entre o motor traseiro e o teto, com mais 434 litros. Com o banco traseiro rebaixado, a Variant podia levar até 922 litros de carga — uma quantia e tanto. “E o pessoal ainda botava aqueles bagageiros de teto”, lembra Paulo Mostardeiro, presidente do Veteran Car Club de Brasília e dono da Variant desta reportagem.
Era um carro de família, e assim foi bastante popular. muito mais que os irmãos VW 1600 (o sedã quatro portas) e o TL. Mas a mecânica simples, o preço baixo e robustez típica da linha Volkswagen a ar fez com que a Variant acabasse se consolidando mesmo como um carro para trabalho. E com honra. “Até hoje você vê Variant que, embora surrada pelo trabalho, alnda roda em bom estado por aí”, analisa Mostardelro.
UMA VOLTA PELA CIDADE
O carro foi tão popular e comum por tantos anos que nem causa grande estranheza sair por aí numa Variant — nem para o motorista, nem para os transeuntes. Os olhares se devem ao estado de conservação desse exemplar, com apenas 8.500 quilômetros rodados (!!). Ao volante, a pequena perua da Volkswagen passa a sensação de ser um carro sólido, confiável e forte, apesar de não ser exatamente uma excelência em desempenho. Para o trânsito do dia-a-dia, não faz feio diante dos carros modernos: arranca bem, atinge os 80km/h facilmente. Parece que basta encher o tanque, dar uma revisada, encher a Variant de tralha e pegar a estrada.
Embora o volante seja muito fino, a direção é boa e responde bem aos movimentos — mas não dá para apelar para a esportividade. Os estreitos pneus diagonais e a tração traseira com semi-eixos fazem com que o carro tenha uma tendência a soltar a traseira nas saídas de curva. Os freios, todos a tambor, não têm hidrovácuo e são um pouco duros. Embora os pés do motorista fiquem meio puxados para a direita, a posição de dirigir é boa, com grande visibilidade. Os retrovisores são o reflexo de sua era: o interno é muito escuro, e os externos, com dobradiça. se fecham com o vento, nas velocidades maiores.
Em 1977 a Volkswagen do Brasil resolveu atualizar o carro e fez um modelo muito parecido com a bem sucedida Brasília, a Variant ll — contra a vontade da matriz alemã, que preferia uma perua baseada no Passat. A Variant ll trazia importantes diferenças de interior e de mecânica. Entre elas, a suspensão dianteira MacPherson, igual à dos carros atuais, no lugar da barra de torção. Mas a novidade tinha sérios problemas de alinhamento, e a nova suspensão traseira gastava muito os pneus. Quando os problemas foram resolvidos. o carro já estava queimado no mercado, e a Volks parou de fabricar a Variant II em 1980, quando a Parati já estava em desenvolvimento.
CARA DO BRASIL
A Variant brasileira tem uma estética única em todo o mundo. O projeto foi nacional, inspirada na linha Tipo 3 da VW alemã, surgida em 1961. Mas a Variant de lá (algumas ainda podem ser vistas rodando por aqui) tinha “rabos de peixe” e faróis simples, redondos. A frente adotada na linha Variant/TL nacional para os modelos 1972 antecipava a remodelação da linha Tipo 4 alemã, reestilizada no fim do ano, e a também nacional Brasília.
CADÊ O MOTOR?
O grande diferencial técnico da Variant era o inédito “motor deitado”, criado para ser mais baixo e possibilitar maior capacidade na traseira. Na verdade, não tinha nada deitado: a ventoinha foi passada para a frente do motor VW a ar e ligada ao virabrequim. A carburação dupla dava ao motor 1.6 a potência de 54cv, suficiente para um carro de apenas 885kg. Chegava aos 100km/h em 25.6s, com velocidade máxima de 133km/h.
PEQUENOS REQUINTES
A perua da VW tinha só uma e bem arranjada opção de acabamento. Todo o interior é revestido, exceto as molduras das janelas das portas. O clássico volante com aro de buzina e o brasão “Paulistarum Terramater” foi substituído em 1975. O carro tinha um bom sistema de ventilação interna e um razoável espaço interno. No painel, chamava a atenção o revestimento plástico imitando madeira.
Eu já dirigi esse clássico e não fazia feio na estrada – excelente carro!!!! 👏👏👏👏👏